domingo, 17 de outubro de 2021

The Quest (Yes-2021): Um álbum leve, equilibrado e bem produzido




    Uma audição descuidada pode não compreender os caminhos de um som que se atualiza à terceira década do século XXI. A banda inglesa Yes lança no ano de 2021 o álbum "The Quest". A que se propõe esta busca? Steve Howe está conduzindo o grupo desde o desencarne de Chris Squire (in memoriam), e neste lançamento, que se deu no dia 01 de outubro de 2021, ele assina a produção musical do vigésimo segundo álbum de estúdio da aclamada banda de rock progressivo.
    Realmente, "The Quest" é o primeiro álbum de estúdio da banda gravado sem a presença de Chris Squire, que faz um tanto de falta, por ser tão único e verdadeiramente insubstituível. As pessoas costumam dizer que ninguém é insubstituível, eu procuro dizer que todos são insubstituíveis, devido nossas singularidades, isso é a beleza da diversidade, cada ser é único.
    Steve Howe traz consigo uma vasta experiência de quase seis décadas de práticas de gravações, pois suas primeiras experiências em estúdio datam de 1964, quando ainda era um jovem guitarrista prodígio. Toda esta experiência está estampada claramente na fina produção de "The Quest". Podemos dizer que este é um disco leve e limpo em sonoridade, sem excessos, onde tudo se encontra no seu devido lugar, tecnicamente, uma mixagem muito refinada, onde as frequências e timbres estão muito bem distribuídas no espectro, neste sentido, o álbum brilha.
    As músicas trazem uma sensação de que este é o conjunto de canções mais suaves gravadas pela banda até então, com muitas canções com presença de violões na base e de uma cama de teclados muito bem feita, sem virtuosismos, mas com timbres que se encaixam com exatidão no acompanhamento das músicas, e intervenções solistas pontuais e muito bem arranjadas. Isto é fruto da maturidade de todos os músicos.
    Aproveitando e falando um pouco deles, o vocalista Jon Davison, que tem um registro de voz semelhante ao de Jon Anderson (chegando com facilidade em frequências agudas), parece que realmente está bem à vontade nesta encarnação do Yes. Ele já está na banda desde fevereiro de 2012 e já havia gravado o álbum de estúdio anterior, "Heaven and Earth", que já apontava o caminho por onde o Yes estaria seguindo no decorrer destas décadas recentes do século XXI, um ponto de mutação por muitos mal compreendido. Que fique claro que com esta afirmação, não estou comparando com a brilhante carreira de Jon Anderson no Yes, mas afirmando que a chama de sua música vem sendo competentemente reverenciada, ao mesmo tempo que novos horizontes são vislumbrados. Como falei anteriormente, considero todos como insubstituíveis, e a pegada de Jon Anderson na história da música universal é gigante.
    Voltemos a outro Jon, o Davison. Desde o início de sua presença no grupo, e entre um álbum e outro gravado, várias turnês tocando álbuns clássicos do Yes na íntegra e outras seleções de músicas de todas as fases, deu ao vocalista uma grande intimidade com o repertório da banda. Billy Sherwood, que ronda a história do Yes desde o lançamento do álbum Union", já havia participado de outras encarnações da banda, mesmo que não oficialmente. As linhas de baixo em "The Quest", são muito bem compostas, dialogando o tempo todo com as melodias principais. A ele, a impossível missão de substituir o gigante Chirs Squire, o que ele vem fazendo com honra e amor, também pela amizade e proximidade musical que teve com "the fish", mas contribuindo e trazendo seu próprio estilo, conseguindo criar estas belíssimas linhas de baixo que encontramos em "The Quest", além de participar das harmonias vocais junto a Howe e Davison. Por falar nisso, os arranjos vocais são pontos altos do álbum, as harmonizações vocais são muito presentes nas faixas e enriquecem bastante a sonoridade das músicas, muitas vezes agindo de forma contrapontística.
    Geoff Downes é um parceiro antigo de Howe, desde os tempos do álbum Drama e de diversos álbuns do considerado supergrupo Asia, passando pela gravação do álbum "Fly From Here", que teve uma boa recepção de crítica e público. Geoff também participa das gravações do Heaven and Earth e de diversas turnês desde a época de "Fly From Here", já acumulando um tanto de experiências com a Yes music e quatro álbuns de estúdio gravados. A Downes ficou destinada a missão de criar um estilo próprio no Yes, sob a sombra do virtuoso Rick Wakeman, e do pioneiro Tony Kaye, e ele vem cumprindo este papel com muita competência. Podemos dizer que dentre os três principais tecladistas que já passaram pela banda, Kaye, Wakeman e Downes, cada um deles tem uma personalidade musical bem distinta e marcante. Downes se destaca bastante como acompanhador, criando timbres que casam muito bem com os novos rumos traçados pela banda.
    Para concluir digo que, independente dos que acham que este é um Yes verdadeiro ou não, e eu não entro neste mérito neste texto, pois há fãs muito calorosos neste debate, os quais não me interessa convencer de uma coisa ou outra. O que me importa é, você gosta e acha bom este momento da banda? aproveite a música que o álbum está sendo muito bem reconhecido internacionalmente, ou, se você não reconhece, não gosta, maravilha também, continue ouvindo os mesmos álbuns que te conectaram com a Yesmusic. Quem está certo? está todo mundo certo, certo no que quer e em como consegue perceber, ninguém deve querer convencer ninguém. O que é fundamental é que, para mim, "The Quest" é um momento de celebração muito especial de uma banda que já é mais que cinquentenária. Eu me sinto feliz por ser contemporâneo deste momento, e de ser contemplado por este trabalho.
    Nestes meus quase 30 anos trabalhando profissionalmente com música, reconheço um grande valor neste álbum, onde, na flor da experiência, a humildade de afirmar que ainda existe uma busca.




Anderson Mariano
Texto feito para o Laboratório de Guitarra Elétrica e Música Universal (LGEMU-UFPB).